Tá, eu sei que ano esquisita....
No próximo domingo vai fazer cinco anos que minha querida mamãe foi pro andar de cima.
Doer não dói mais não, sabe? Mas é que bate aquela sensação de abandono terrível que ninguém jamais poderá suprir, consertar, consolar, abrandar, acolher...ou até mesmo roubar de mim.
É como se fosse assim: uma ausência legítima, uma saudade branda, porém implacável, uma maresia morta, uma caravana que já passou e só deixou os rastros pra provar que houve algo por ali um dia.
Então é algo assim: é estranho pensar que ela, simplesmente, não existe mais, fisicamente falando. É como se jamais ela estivesse estado aqui. Mas também é como se jamais ela tivesse partido.
Mas eu realmente sinto muita falta dela quando tenho pesadelos. Era pra cama dela que eu corria quando acordava chorando. E ela não dizia coisa alguma. Apenas afastava pro lado pra abrir um espaço pra eu poder me deitar e passava a mão na minha cabeleira - àquela época bem vasta - até que eu me acalmasse e dormisse.
Não moro mais no mesmo endereço, meu coração já foi delegado ao mundo com procuração e tudo, encontrei o homem da minha vida, ainda não tive vontade de fazer filhos, moro com o marido mais perfeito possível, crio um gato e leio pelo menos dois livros por semana.
Mas essa ausência autêntica, irascível e inconteste, ninguém vai roubar de mim.
Coicidentemente, era um dia 04 de abril. E era um domingo, justamente igual a esse ou a tantos outros. Fazia um belo sol. Mamãe, onde quer que você esteja, toda vez que vejo um sol e um girassol, eu me lembrarei de você, independente de todos os outros minutos que dedico à sua memória, à sua alegria contagiante, à sua lucidez ímpar, à sua honestidade pueril, à sua ingenuidade surpreendente, à sua abnegação e abdicação de todas as coisas em nome e benefício do próximo.
No próximo domingo eu começo as aulas de atabaque. tenho certeza que será um dia de sol. Estarei em companhia de bons amigos. Estarei acompanhada do Lindo. E o domingo vai passar. Mas essa alfinetada? Será que passa, um dia?
PS. Dêem o desconto. pelo menos uma vez por ano eu preciso dizer o que, de fato, eu sinto. Não tenho sangue de barata 365 dias por ano....