Abraçou-o: tépido, macio, elástico e duro: um corpo. Ali estava ele, contido inteirinho naquele corpo de homem que ela apertava nos braços. Escapara-lhe o dia todo: escondido em seu passado, com seus pensamentos...disperso pelo mundo todo. Mas estava ali agora, encostado à sua carne, sob suas mãos e seus lábios; para ir ao seu encontro, ela se deixava deslizar, despojada de recordações, de esperanças e de pensamentos, até o fundo do instante imóvel; nada mais que um corpo cego, surdamente iluminado pelo crepitar de milhares de cintilações. Não me atraiçoe! Não se afaste deste corpo ardente! Ela gemeu. Você está aqui. Tão certamente quanto eu mesma. Para mim, não para você, esta carne fremente, sua carne. Você está aqui. A desejar-me, a exigir-me. Também eu estou aqui, flamejante plenitude contra a qual se esboroa o tempo. Para todo o sempre será este minuto, tão real quanto a morte e quanto a eternidade
Simone de Beauvoir. Le sang des autres
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