Pra Me Enlouquecer É Mais Caro

República Anárquico-frevocrática fundada em 2002 por Rainha do Maracatu Roubada de Ouro, Senhor do teu Anel e Catirina Sem Mateus. Atualmente é administrada pela Mulherzinha 3.4 e a Rainha do Maracatu Roubada de Ouro. Afinal de contas, nunca perdemos a nossa majestade

quarta-feira, março 31, 2004

Tá, eu sei que ano esquisita....
No próximo domingo vai fazer cinco anos que minha querida mamãe foi pro andar de cima.
Doer não dói mais não, sabe? Mas é que bate aquela sensação de abandono terrível que ninguém jamais poderá suprir, consertar, consolar, abrandar, acolher...ou até mesmo roubar de mim.
É como se fosse assim: uma ausência legítima, uma saudade branda, porém implacável, uma maresia morta, uma caravana que já passou e só deixou os rastros pra provar que houve algo por ali um dia.
Então é algo assim: é estranho pensar que ela, simplesmente, não existe mais, fisicamente falando. É como se jamais ela estivesse estado aqui. Mas também é como se jamais ela tivesse partido.
Mas eu realmente sinto muita falta dela quando tenho pesadelos. Era pra cama dela que eu corria quando acordava chorando. E ela não dizia coisa alguma. Apenas afastava pro lado pra abrir um espaço pra eu poder me deitar e passava a mão na minha cabeleira - àquela época bem vasta - até que eu me acalmasse e dormisse.
Não moro mais no mesmo endereço, meu coração já foi delegado ao mundo com procuração e tudo, encontrei o homem da minha vida, ainda não tive vontade de fazer filhos, moro com o marido mais perfeito possível, crio um gato e leio pelo menos dois livros por semana.
Mas essa ausência autêntica, irascível e inconteste, ninguém vai roubar de mim.

Coicidentemente, era um dia 04 de abril. E era um domingo, justamente igual a esse ou a tantos outros. Fazia um belo sol. Mamãe, onde quer que você esteja, toda vez que vejo um sol e um girassol, eu me lembrarei de você, independente de todos os outros minutos que dedico à sua memória, à sua alegria contagiante, à sua lucidez ímpar, à sua honestidade pueril, à sua ingenuidade surpreendente, à sua abnegação e abdicação de todas as coisas em nome e benefício do próximo.

No próximo domingo eu começo as aulas de atabaque. tenho certeza que será um dia de sol. Estarei em companhia de bons amigos. Estarei acompanhada do Lindo. E o domingo vai passar. Mas essa alfinetada? Será que passa, um dia?

PS. Dêem o desconto. pelo menos uma vez por ano eu preciso dizer o que, de fato, eu sinto. Não tenho sangue de barata 365 dias por ano....