Pra Me Enlouquecer É Mais Caro

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segunda-feira, fevereiro 24, 2003

Arrasei! Sou citada no Sexo@Cidade de hoje
Mulheres decididas e poderosas de todas as classes pernambucanas deveriam ler a coluna Sexo@Cidade, veiculada no Jornal do Commercio (www.jc.com.br) às segundas-feiras. Como vcs podem ver, na semana passada eu reproduzi um e-mail que tinha escrito à redatora da coluna, falando sobre a minha dificuldade em virar mulherzinha. Pois é. E num é que hoje a colunista reproduziu e readaptou a minha estorieta? O texto taí embaixo pra quem quiser ler e fica a sugestãode fantasia de carnaval. De acordo com a Flay, eu vou sair fantasiada de "Dominatrix de Barbie...o que é isso? Leia abaixo.

Sexo@Cidade
Flávia de Gusmão


Invente uma fantasia criativa para esse Carnaval

1- Vou virar dominatrix de Barbie

Uma série de possibilidades me vem à mente nesta época na qual a fantasia escapa dos contornos domésticos habituais e ganha as ruas. Não há nada que alguém ache estranho no que se refere a vestuário e atitudes neste momento de Carnaval. Viramos quase ingleses nesse aspecto. Explico. Enquanto os brasileiros são um povo que não resiste a espiar os micos e barracos alheios, os ingleses têm uma estranha habilidade de não levantar sequer uma sobrancelha diante do ser mais esdrúxulo. Cheguei a ver no metrô de Londres um baita negão sarado, nada afeminado, trajando calça jeans, sutiã de renda e cara de mau. E ninguém lhe dirigiu sequer um segundo olhar, exceto eu mesma, claro, brasileiríssima.

O Carnaval nos dá essa sensação de viver num País onde a vida alheia não nos diz absolutamente respeito, e cada um pode agir e se vestir do jeito que lhe der na telha. É por isso que eu acho um desperdício gente que se veste de Pierrô, Colombina, diabinhos e bruxas. Muito fofinhos, sem dúvida, mas pouco eficazes como forma de expressão.

Tenho uma amiga que está trabalhando com afinco numa fantasia que poderia se chamar: “A revolta das que odeiam a Barbie e tudo o que ela representa”, ou, para encurtar, “Dominatrix de Barbie”. A idéia surgiu quando uma bicha-amiga a presenteou com uma Barbie Vai à Praia, no Natal. Ela raspou a cabeça da boneca, encheu-lhe de piercings, colocou-a numa gaiola e acoplou um minigravador que toca continuamente música minimalista de Eric Satie. Isso sim é que é expressão, discurso recheado de ideologia pronta para consumo no Carnaval. Vou sair vestida de Dominatrix de Barbie. Para os que não entendem tanto simbolismo, esta fantasia resume o discurso de quem despreza tudo o que a Barbie representa, até pelo desconforto que isso implica:

1 - Barbie não abre porta de carro ou carrega compras. Elas devem esperar a iniciativa masculina,

2 - Barbie não pede cerveja pro garçom. Aliás, ela nem sequer deve chamar o garçom. Caso o garçom chegue à mesa e pergunte “uma cervejinha?”, deve apenas olhar para o companheiro e – através da troca de olhares – perguntar se ele está de acordo.

3 - Barbie tem que esperar a iniciativa do bofe para pedir a conta e, caso ele não se habilite a pagar a conta toda, aí sim, é permitida a divisão dos uísques. Aliás, Barbie que é Barbie nem pode tomar uísque, tem que se contentar com aquela coisa espessa e cor-de-rosa chamada coquetel de frutas sem álcool.

4 - Barbie tem que se cuidar, comer folha pra caramba, besuntar a cara e o corpo de cremes, bater calçada atrás de roupinhas interessantes, aposentar a calcinha de algodão, estar sempre pronta com aquela lingerie poderosérrima, fazer depilação a cera, cantinho, perna, axila e sobrancelhas, sem falar nas unhas.

5 - Barbie tem que se deixar conduzir na dança a dois. Uma das tarefas mais complicadas entre todas acima.

6 - Barbie vivencia um namoro interminável com um rapaz bem limpinho que não desperta mais emoção erótica do que faria um dunkin’ donuts. E ainda correm rumores de que, na verdade, ele tem um caso com o Falcon. Usa umas roupas esquisitas e tem adoração por seu carro importado.

2- Outras opções menos cotadas
Outra opção, que pode até parecer óbvia, mas não é, é a fantasia de Lacraia. Só tem vantagens: não precisa parecer bonita, não precisa saber dançar e ainda dá para ganhar uma grana. É que os organizadores de um baile funk, no Rio de Janeiro, chamaram Lacraia para animar a festa. De acordo com o esquema armado pelos funkeiros, ganhava R$ 50 o homem que ficasse mais tempo beijando o travesti. Não faltaram candidatos ao prêmio. Mirem-se no exemplo.


3-O útil ao agradável

Pessoalmente, acho que seria bastante útil que alguém se fantasiasse de “Árvore de sugestões para assuntos de Carnaval na Mídia”. Funcionaria da seguinte forma: o folião passa e deixa colada a sua sugestão numa grande árvore em forma de cone, dentro da qual estará o fantasiado. Estas sugestões seriam encaminhadas para uma espécie de centro de inteligência para serem entregues às emissoras de televisão, rádio e aos jornais. Isso evitaria que, ano após ano, víssemos sempre as mesmas frases em títulos, legendas e chamadas. Estaria, por exemplo, proibido que repórter de televisão abrisse o ‘ao vivo’ dizendo: “São 500 zilhões de pessoas na Av. Guararapes. É o Galo da Madrugada, minha gente”. Fora. Também seriam cortadas as falas dos entrevistados que respondessem: “Com certeza”. Assim: repórter pergunta: “Está se divertindo muito no Galo”. Entrevistado responde: “Com certeza...”. Não tem quem agüente mais.