Revolta do dia: Não tenho vocação pra mulherzinha
Ontem fomos eu, o Amigo e o Playboy assistir Naná Vasconcelos e outros maracatis no Pátio do Terço. Não resisti e dialoguei como garçom, que se tratava de alma sebosa até dizer amém. Não sei ser mulherzinha. Por este e outros motivos nesta minah incursão no mundo obscuro das mulherzinhas resolvi escrever um e-mail à Flávia de Guismão, redatora da coluna sexo@cidade, veiculadas às segundas-feiras no JC (www.jc.com.br). E vocês, o que acham? Quer dizer, se vcs pudessem se manifestar, já que os comments do Haloscan estão dando pau neste e em outros blogs por aí....
-----Mensagem original-----
De: Rainha do Maracatu Roubada de Ouro
Enviada em: Monday, 17 February de 2003 05:24 PM
Para: 'flgusmao@jc.com.br'
Assunto: Sugestão para o Sexo@cidade
Flay,
Tudo bonzinho contigo e as meninas? Hope so.
Olha, eu estava conversando com Bicha Superpoderosa e estávamos falando sobre aminha nova fase que acho que lhe rende algo pro sexo@cidade: acabo de completar 27 aninhos e estou decidida a “virar mulherzinha”
Decidi virar mulherzinha porque, sinceramente, estou à cata de algum relacionamento diferente, sei lá. Como nunca fui mulherzinha resolvi testar a “fórmula” pra ver no que dava.
Em conversa com meus váaaaarios amigos heterossexuais e, de acordo com sugestões colhidas cheguei à conclusão que, pra ser mulherzinha é preciso muita disciplina e afinco e não sei, sinceramente se eu consigo
Olha as conclusões sobre as quais cheguei nesse meu percalço:
1. Mulherzinha não abre porta de carro ou carrega compras. Elas devem esperar a iniciativa masculina
2. Mulherzinha não pede cerveja pro garçom. Aliás, ela sequer deve chamar o garçom. Caso o garçom chegue à mesa e pergunte “uma cervejinha?”, a mulherzinha deve apenas olhar para o companheiro e – pelos olhares – perguntar se ele está de acordo
3. Mulherzinha tem que esperar a iniciativa do bofe pedir a conta e, caso ele não se habilite a pagar a conta toda aí sim, é permitida a divisão dos whiskies. Aliás, mulherzinha que é mulherzinha nem sei se pode tomar whisky. Acho que elas preferem os cocktails sem álcool.
4.Mulherzinha tem que se cuidar, comer folha pra caralho, besuntar a cara e o corpitcho de cremes, bater calçada atrás de roupinhas interessantes (ainda que mulheres se vistam para mulheres e se dispam para homens) estar sempre pronta com aquela lingerie poderosérrima, fazer depilação à cera, cantinho, perna, axila e sombrancelhas, sem falar nas unhas.
5.Mulherzinha tem que se deixar ser conduzida na dança a dois (essa foi a única que consegui cumprir à risca)
Enfim, resolvi virar mulherzinha há 15 dias e confesso que as coisas andam a duras penas. O que mais me impressiona, fora todas as coisas que eu lhe listei foi, no final das contas, descobrir que os mesmos homens que me recomendaram todas essas coisas acima se apavoram diante de uma mulher que tome a iniciativa do cortejo. Ou seja: no fundo, no fundo, eles sempre tem que tomar a iniciativa, senão não rola.
Pra piorar, comprei esfoliante, creme pro rosto, sabonetes líquidos, maquiagem iuscambau a quatro. Na primeira noite em que saí fantasiada de mulherzinha, de saltos, vestidinho costas nuas e maquiagem, acordei com o olho direito irritadíssimo. Apavorada com a possibilidade de uma conjuntivite, fui à emergência oftalmológica.
Adivinha? Estava com uma irritação causada pela sombra, que era de pó de seda.
Acho que no fundo, o problema é comigo. Não sei se tenho vocação pra mulherzinha.
Em compensação, ganhei uma alfaia neste meu aniversário. Todo final de semana vou “bater bombo”. Definitivamente, não é coisa de mulherzinha, mas que dá pra colocar a metade do stress da semana pra fora, isso lá é verdade.
E os putos pensam que é fácil: trabalha-se de 10 a 12 h por dia, há de se fazer feira, cuidar da casa (e dos filhos, caso porventura venham um dia), livrar-se de cantadas indesejáveis em ambientes de trabalho, fazer suas opiniões serem respeitadas em ambientes de trabalho também e, além de tudo isso, cumprir com uma maratona de pré-requisitos pra ser considerada mulherzinha....não sei se isso é muito lógico.
Definitivamente não é fácil. Academia é pra quem gosta, salada é para quem aprecia e cremes e afins é para quem tem talento, vocação e paciência.
Lembro-me de um slogan de Macaca que dizia “só tenho um produto pra vender: uma mulher de verdade”. Pois é. Quem quiser que compre o pacote completo. Mas fazer o quê se nós, as “mulheres de verdade” estamos abandonadas à própria sorte? Talvez este tenha sido o motivo pelo qual eu tenha ensaiado essa “versão mulherzinha” (que, confesso, não sei se vou conseguir atingir).
Well, lembrei-me então de uma piadinha infame sobre a Barbie (eu odeio a Barbie e todos os seus conceitos de “mulher-loira-linda-sem-bunda-que-não-trabalha-e-que-tem-dois-namorados-que-acho-que-são-gays...acho a boneca o cúmulo da deseducação).
Bom, a piadinha era no sitcom The Nanny onde a babá conversava com a menina mais nova, de cinco anos. O diálogo surreal foi o seguinte:
Nanny: Ah, que bonitinho, brincando de bonecas.
Grace : Não, estamos na terapia de grupo (é. A menina fazia terapia)
Nanny : Sabe o que eu ouvi dizer sobre a Barbie? Que ela está em crise com o Ken...
Grace (com cara de espanto); Nooooossa. É mesmo? E por quê?
Nanny: Soube que ela teve um caso breve com o Falcon...Em 30 anos nunca cometeu uma indiscrição e agora vai perder a "Casa dos Sonhos"...
Grace : Ah, que pena...
Nanny : Que pena que nada! Ela nunca me enganou...
Grace : Mas por quê?
Nanny : Nunca confie numa mulher que não pode usar saltos baixos...
E então? O que você acha? Ainda há futuro para nós, as mulheres de verdade?
Quanto à Barbie, Bicha Superpoderosa me deu uma Barbie vai à Praia de Natal. Raspamos a cabeça dela e agora vamos colocá-la numa gaiola, enfiar-lhe uns piercings e estamos fazendo com que ela escute bastante jazz. É, pelo menos, mais barato do que pagar um terapeuta.
A propósito, desde que virei mulherzinha fui muito elogiada. Mas ainda não beijei na boca de ninguém.
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