Own...cartinha do meu primo fofucha!
Recebi hoje, pelo email
"Sonho
como em todo sonho no claro acordei.
um dia, desses em que se atravessa cantante, te liguei e estavas em reunião, na ocasião era aniversário de "mayzena" (parece que ela não gosta de ser chamada assim).
senti a vergonha de ligar novamente pq não cumpri a promessa, que não virou lenda, de te levar um uísque e sobretudo ouvir-te, olhar- te, fumar um cigarro e quem sabe até fofocar.
quando lembro de mim já é do costume imaginar o dia em Serrambi.
uma infância memoriosa.
Criado na rua, com toda a efervescência de um corpo interpretado por um pudor católico auto-boicotante, frequentei escolas de classe média no coração de Boa viagem. Pai e Mãe já trabalhavam até o final da tarde, deviam chegar em casa arruinados. Era difícil, é segredo, mas creio que eles esqueceram boa parte da minha formação à escola. O Atual era um colégio ultrapassado que se valia de uma boa propaganda para conquistar novas mensalidades. De ideologia predominantemente liberal fez-se de tudo para que comprassemos os shows do chiclete com banana, asa de águia... eu pressionava, esperneava, berrava com os meus pais para sair num bloco do Recifolia. Foi assim que ganhei meu primeiro instrumento: o cavaquinho.
Em casa havia um rádio que era manipulado apenas pelas empregadas que tinham a função de assear a casa. O repertório era zeze di camargo, chitãozinho e leonardo ou raça negra... mais tarde Belo, os travessos e Só pra contrariar. lembro que estava em Tamandaré quando Leandro morreu de câncer. chorei.
Pois, foi na primavera de 96 que fui passar mais um final de semana em Serrambi.
sempre tive primos mais velhos que nunca os conheci embora estivessem sempre por perto nas festas da família. Numa lembrança de Candeias, um deles me iludiu fazendo-me na frente dos outros tocar numa ferida aberta e com pus, depois riram-se todos e eu saí do quarto enojado e humilhado.
Na ocasião do fim de semana em Serrambi, eu havia levado uma coletânea de músicas que preparei com o cuidado antes de sair de casa, na pequena lista estavam todos aqueles sucessos do pagodão do molejo.
foi quando numa tarde depois de voltar da Praia, os primos mais velhos perguntaram-me:
você já escutou Chico Science?
respondi que não!
eles exclamaram: mas não é possível você não ter escutado chico science!
eu entrei em choque.
Naquele dia tive ódio de Chico Science embora tenha escutado todo o afrociberdelia dias, meses e anos depois.
assim muita coisa mudaria.
por te devotar, o meu imaginário, ao lugar das deusas, desejava ter conhecido-te de novo para que pudessemos errar apenas sob o gostinho do indizível.
mas como Não é fato e aprender é antes de tudo morrer devagar e esquecer... quer fumar um cigarro comigo antes que eu não possa mais voltar a pedir?
Cheuro"