Pra Me Enlouquecer É Mais Caro

República Anárquico-frevocrática fundada em 2002 por Rainha do Maracatu Roubada de Ouro, Senhor do teu Anel e Catirina Sem Mateus. Atualmente é administrada pela Mulherzinha 3.4 e a Rainha do Maracatu Roubada de Ouro. Afinal de contas, nunca perdemos a nossa majestade

domingo, agosto 29, 2010

Falando no post anterior...

Réquiem para um grande amor
Mas era sempre aquela sexta-feira oca no meu peito...


Da Vida tal qual é
Um dia atrás do outro, uma noite no meio, nascer, crescer, conhecer, apreender o mundo com suas cores de mil distintos tons. Reproduzir, procriar, criar, reinventar, renascer. Derramar lágrimas na solidão, efusão de palavras por sobre o papel. Acordar. Dormir. E depois dormir mais uma vez. Dessa vez, para todo o sempre.
Vidas interrompidas.
Ausências inesperadas.
Um Grande amor
Ficar em pé. Balbuciar palavras. Andar. Correr. Seguir em frente. Caminhar mais uma vez. Distinguir palavras soltas, desarticuladas, cadenciadas ou não. Ouvir uma primeira canção de ninar, ser embalado em colo morno, ouvir estórias para dormir, aprender a banhar-se, vestir-se, rezar o Pai Nosso ao deitar-se em hora certa, portar-se adequadamente, desaprender palavrões, solidarizar-se com o próximo, respeitar o direito do outro, repartir o pão, esforçar-se para atingir um fim, suplantar medos, cumprir metas, amar.
Minha mãe. E tudo o que ela me ensinou. E por tudo daquilo que ela me fez. Molde imperfeito em busca de uma solução perfeita. Uma tentativa sincera de construir um novo (e melhor) mundo.
Da minha mãe
Ela trazia envolta em si um halo de delicadeza e esperança. Sua voz, doce e serena, saberia sempre me conduzir nos momentos mais inseguros ou incertos.
Ela ensinou-me as duas ou três coisas mais importantes que carrego em mim: além de ter me ensinado a ler - e, por conseguinte, gostar de ler - ela haveria de me ensinar a ser gente, a amar as pessoas, fazer amigos, e aprender a compreender os motivos pelos quais os outros, às vezes, nos machucam.
Ela preferia quadros a paredes. Livros a televisões. Música a festas. Refrescos a vinho. Sol a chuva. Montanha a mar. Renúncia a batalhas emocionais. Amigos e família a solidão.
Através dela, a única certeza de que haveria alguém que me amaria incondicionalmente, sem previsões ou reservas. Ela estaria sempre lá quando se fizesse necessária. Morássemos na mesma cidade ou a milhas de distância. Estivéssemos no mesmo ambiente ou dividindo um quarto de hospital qualquer, onde permanecemos juntas até onde nos foi possível. Até o dia em que ela dormiu. Para sempre.
Da Dor
A Dor é algo assim, indivisível. Não se doa ou se toma emprestado de alguém. Vai aonde deseja sem pedir licença, celebrar pactos de união ou discórdia. É um conceito muito mais livre do que já sonhei em ser um dia.
E a dor, a minha dor, foi a de não poder senti-la, ou externá-la. Foi segurar sua mãozinha fria e exercer, pela primeira vez, o papel de ninar uma canção que a fizesse dormir. Foi contabilizar os minutos e descobrir, felizmente e ainda a tempo, que cada nascer do Sol seria um espetáculo a ser apreciado, degustado em pequenas doses, sorvido tal como merece.
Cada dia a seu lado em fase de doença terminal foi um belo e intenso aprendizado sobre paciência, esperança, gratidão e uma série de outras descobertas imprevisíveis, intraduzíveis como uma intimidade jamais testemunhada antes. Eu jamais a havia auxiliado a vestir roupas, jamais a havia ajudado a banhar-se, jamais havia imaginado partilhar desta sua intimidade compulsoriamente revelada.
E neste momento inconteste, quando os papéis, repentinamente, são invertidos e passamos a ser o provedor, aquele que cuida, vigia e ora pelo ser querido, sentimo-nos finalmente responsáveis pelos caminhos sinuosos da vida de outrem, que já se confunde há muito com a nossa, particular e intransferível.
O que seremos agora?
Da sublimação e desapego
Imagino que jamais choramos por quem parte. Choramos por aquele egoísmo insensato, pela falta que o outro faz em nós, pela ausência. Pela indiferença a nossos apelos sem sentido quando as coisas não saem conforme esperado, prometido ou imaginado.
E após a dor, aquela dura e cabal prova maior: a do desapego.
Deixa-me ver se me explico:
O desapego chega naquela fase em que nos perguntamos sobre escolhas possíveis. O desapego chega no minuto em que nos questionamos sobre o que seria melhor como um acordo entre as partes: de um lado, o ser amado que ora, sofre. Do outro lado de cá, nós - aqueles pobres mortais insensatos e egoístas como qualquer ser vivente que ama e deseja desfrutar da convivência com o ser querido.
Mas a Dor, essa mesma Dor que transita pela vida com tanta desenvoltura e elegância, sorrateira e tempestuosa, exigirá sempre uma resposta: o término da sua dor ou a do outro? Neste caso, a fim da dor do outro - do objeto amado - será apenas o começo da sua. O que escolher?
Eis o desapego: quando nos julgamos incapazes de desejar o prolongamento da dor (e da vida) do objeto amado e chegamos àquela conclusão dolorosamente lúcida, quando fatalmente descobrimos que a melhor opção – e única possível – será apenas o fim da dor - e da vida – do outro.
Eis o amor. Desejar o melhor ao objeto amado. A diferença neste caso é apenas a serenidade que nos deve acompanhar ao ter que dizer em algum momento, simplesmente, “Adeus”.
Finda-se o sonho. Finda-se um pouco do sentido que nos mantém vivos. Finda-se aquela parte nossa que habita o coração de outrem. Finda-se uma testemunha de nossas memórias e experiências em comum. Finda-se a dor do outro. Finda-se a vida.
Inicia-se a nossa (dor). Apenas assume novas vestes. Apenas assume um novo papel.
E entre subterfúgios e ilusões, autodenomina-se nesse eterno despertar de “ausência”.
E esta? Sabemos apenas que é prima-irmã da Dor e de todos os seus conceitos associados. Alguns a chamam saudade. Outros, nostalgia. Outros, como eu, apenas calam.
Do engano, erro e acerto.
Estou viva e bem. Não preciso lembrar de minha mãe, ou tentar enganar sua ausência. Ela está em mim. Mora cá dentro, tal qual criança escondida, mas que se revela através de meus valores, atitudes e gestos. Serei sempre aquele seu molde imperfeito em busca de uma solução perfeita.

Coisas pelas quais eu jamais perdoarei mamãe...

Eu: Mãe, vc quer conversar alguma coisa?
Mãe: Não. Só queria que ninguém ficasse triste quando eu for embora...
Eu: Mãe, é natural que as pessoas fiquem tristes, tá louca? Achei que você tinha câncer, mas que sua cabeça estava em perfeito juízo...

Cena 2
Mãe: Eu preciso dizer uma coisa
Eu: O quê?
Mãe: Eu queria ter sido igual a você.
Eu: Mãe, tá louca? Eu bebo, fumo e amo carnaval!!!
Mãe: Eu queria ter tido a metade da sua capacidade de perdão e compreensão.
Eu: Ahn!?!?!?!?!?!?!
Mãe: Eu queria saber como compreender as pessoas e amá-las, Mesmo quando as pessoas te fazem mal, vc as compreende. E as perdoa.

Cena 3:
Mãe: Eu queria te pedir uma coisa...
Eu: O quê?
Mãe: Queria que você me prometesse que não vai ficar sozinha. Eu lhe conheço, e sei que vc vai querer ficar sozinha. Me prometa que vc vai ter, ao menos, um filho. Afinal de contas, o que seria de mim se fosse você aqui, segurando a minha mão, neste momento?


Minha mãe teve a pachorra de me dizer estas 3 pérolas na semana em que morreu. O Motivo pela qual eu não a perdoo é: Podia ter dito antes, eu sempre fui a ovelha negra. Ela precisou ir embora pra deixar claro que tinha muito orgulho de mim. Eu não me incomodaria de ter ouvido isso antes. Ou de tê-la amado muito mais ainda. Até ela morrer, era pra cama dela que eu corria quando tinha pesadelos...Quem as tem (As mães), que as amem. Muito e sempre. Só sabe exatamente o que é mãe, quando se perde. É quando seu mundinho para de girar em torno do seu umbigo. E a vida se apresenta tal qual ela é: deixa de fazer o sentido inesperado para o qual você - tolamente - se preparou.

terça-feira, agosto 17, 2010

Te juro que não queria...

Mas vou ter que viajar por 30 dias a trabalho. Não tenho ilusões. Acredio que só sonha em trabalhar viajando quem não trabalha viajando ou quem realmente fez disso uma proposta de vida, como os turismólogos. Morro de saudades dos meus cães. E da minha rotina. E de dormir de conchinha. E de um monte de coisas mais.
Pollyana, Menina Moça que sou, vou ficar com a parte boa. Duas destas semanas serão em belém, meu torrão natal, que não visito há 20 anos. (suspiro)

segunda-feira, agosto 16, 2010

Semana corrida, final de semana cabeçudo

Deu tudo certinho no show de João do Morro no Rio de Janeiro, com direito a uma matéria de destaque na páginas 2 do Segundo Caderno (Jornal O Globo). De vez em quando a gente acerta nessa vida. Coisa boa


Na sexta passada, fui ver show de Rogerman no Pátio de São Pedro. No sábado fui aos ateliês de Olinda com camarada Púshkin e no domingo fui ver Isaar acústico no Espaço Muda.

Ufa! Cansada. E a gripe quase me pegando.

segunda-feira, agosto 09, 2010

O bom filho à casa torna

Camarada Púshkin em breve passagem na cidade me visitou no último sábado. Batemos papo até às cinco da matina. Ok, agora sim, isso foi uma reconciliação de amizade, com direito a votos e juras de amor e saudades. Eu sentia muita falta desse FDP.

quinta-feira, agosto 05, 2010

Semana feliz

Apesar do bofe viajar amanhã e passarmos outro final de semana separados, consegui 1) trocar figurinhas com Xico Sá; 2) alugar o apartamento desocupado pra um casal de amigos; 3) ajustar um contrato de serviço que presto, o que significa mais um troco no caixa.

Ainda tô pensado se vale a pena me candidatar a uma vaga tentadora, salário show, o problema é o endereço: Brasília. Mas o emprego foi feito pra mim, acredite

Eu tenho Fé...

É o título de uma canção linda lançada por Roger Man, ex-Bonsucesso Samba Clube. Eu recomendo.
www.myspace.com/rogermanmusic. Vai lá e escuta.

quarta-feira, agosto 04, 2010

Amor, sexo e efemérides. Xico Sá e Antônio Maria.

A boa notícia do dia é que descobri hoje que o fantástico Xico Sá é meu seguidor no Twitter. Nada de mais? Nada de menos? Pra mim é uma puta honra. Besta, pequenina, mas daquelas que me deixam feliz
É que eu considero o Xico a reencarnação literária mais próxima de Antônio Maria, meu escritor preferido. Um estilo próprio, praticado pelo povo da velha guarda da literatura-jornalismo. Daquele povo que escreve sem preciosismos, te dá um direto no queixo e que adentra o recinto sem pedir licença. Literatura sem frescura, emoção pura, releituras sob formato de crônicas - esse gênero maior que eu tanto adoro.

Quer ver? Coloco aqui dois trechos distintos dos dois escritores. Dois homens para se amar. Incondicionalmente.

Oração à Nossa Senhora dos que amam sozinhos (Xico Sá)
Nossa Sra. dos que Amam Sozinho, perdoa-me pela insistência, nem mais é por tanto quere-la, é por deixar claro, nega que sopra das intimidades dessa oração, que só ela me faz passar da conta, perversa, cair no abismo mais lindo do gozo sem volta, como naquele encosto de beira de estrada, como na rodovia estrangeira de Sam Shepard, crônicas de motel, simbora!
Nossa Sra. dos que só pensam nela, cotovelos lanhados de tanta espera, tantos sustos nas ruas, nos bares, “é ela!!!”, Nossa Sra. Dos Cotovelos da Surpresa e das janelas, tão gastos, cinzas, peles, dobras, e tanta fome de viver aqui dentro, megalomaníaco, épico, terá sido a força do desprezo???..."

E por aí vai.
E agora a "Oração", de Antônio Maria, escrita em 1954
"Rosinha Desossée, me tire desse quarto de hotel e de todas as coisas que entram pela janela; me leve para longe das palmeiras, mais longe e perto das coisas mais macias; me faça esquecer (depressa) os homens ruins — isto é: os que gostam de cebola crua; me ensine, Rosinha Desossée, tudo o que eu não aprendi: a cortar com a mão direita, a usar anel, a tocar piano, a desenhar uma árvore e valsar; e me lembre do que eu esqueci — raiz quadrada, (as mais ordinárias), frações, latim, geofísica e "Navio Negreiro", de Castro Alves; depois, me dê, pelo bem dos seus filhinhos, aquilo que eu não tenho há quase um ano, carinho — de um jeito que eu não sei dizer como é, mas que há, por aí ou, pelo menos, já houve; destelhe a casa, deixe a noite entrar e, juntos, vamos nos resfriar; espirre de lá, que eu espirro de cá... agora, cada um com a sua bombinha, inalação, inalação; lado a lado, sentemos, os dois de perfil para o ventilador; minhas mãos e as suas não são de ninguém, entendido?; se interesse por mim e pergunte o que eu sei, que eu quero exclamar, no mais puro francês: "oh!"..."comment allez vous"? (...) de um jeito ou de outro, me tire daqui, pra Pérsia, Sibéria, pro Clube da Chave, pra Marte, Inglaterra, sem couvert, sem couvert; está vendo o retrato dos meus 20 anos? de lá para cá, cansaço, pé chato, gordura, calvície fizeram de mim essa coisa ansiosa, insegura e com sono, que pede a você, no auge do manso: você, Desossée, não saia esta noite e fique, ao meu lado, esperando que o sono me tome e me mate, me salve e me leve, por amor ao teu andar, assim seja..."