Da série: "Eu só tenho amigos figura"
Já disse por aqui que os meus amigos são o meu maior e melhor patrimônio, né? Quer ver? Vou citar alguns
Amarelo safado
Amarelo safado é um amigo meu e do Lindo que conhecemos nas batucadas da vida. Ele é de uma comunidade da Zona Norte da cidade e se utiliza única e exclusivamente de bicicleta pra se deslocar pra lá e pra cá.
Não! Não é se deslocar de bike do Recife Antigo pra Rua da Aurora (30 minutos a pé). É uma coisa se deslocar de Recife pra João Pessoa pra fazer um passeio com os amigos.
Resultado: o amarelo é magro, mas magro de dar dó. Toda vez que ele chega lá em casa eu pergunto se ele já comeu. A coca-cola ele não rejeita, mas se rolar um sanduíche, ele nunca come o segundo porque diz que “vai ficar pesado pra pedalar”.
Levando em consideração sua situação econômico-financeira, amarelo faz de um tudo. Vejam algumas das expertises do menino:
Amarelo é assistente de estúdio fotográfico. Amarelo também faz ponta como roadie e dá uma força também na nossa batucada como caixista. No grupo ele também tira uns trocados como afinador de alfaias (R$ 5,00 a afinação, faz favor!).
Amarelo safado é um quebra-galho de todas as horas: já foi caixa de bar, sabe consertar descargas de banheiros, mexe com um pouco de eletricidade e é um excelente babá de cachorros. Lá em casa, quando a gente viaja, deixa a cargo dele as ferinhas – que, aliás, choram de alegria quando ele chega.
Já foi porteiro de festa, animador de festa e, na última eleição, ele trabalhou como garoto propaganda do PT pedalando uma bicicleta de cinco lugares. Eram dois pedalando e os outros três lugares eram ocupados por bonecos. Isso mesmo, bonecos de pessoas em tamanho natural devidamente amarrados nos pedais e nos guidões da bike estranha. Um sucesso.
Aliás, historinha engraçada sobre esta passagem eleitoral é que eles foram orientados a passar com a bike pelo bairro do Coque – zona extremamente perigosa do Recife. Ao passar com a magrela, as crianças da comunidade – que estavam ocupadas com bolinhas de gude e peladas no campinho – pararam pra tentar entender o que diabos era aquilo. Após alguns momentos e tendo caído a ficha que eram duas pessoas e três bonecos puseram-se todos a correr atrás da bike e atirar pedras contra os cinco ciclistas (duas pessoas e três bonecos).
Pernas pra que te quero. Pelo menos os ciclistas não foram mais obrigados a passar pelo Coque outra vez durante as eleições.
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