Hoje estou completando 34 anos. Dizer o quê sobre isso?
Ainda não tive medo de envelhecer, não sei o que as pessoas pensam sobre isso. Costumo tentar me eximir destas discussões bobocas ditadas pela mídia do que devemos pensar, fazer ou sentir. Não preciso usar manequim 36, mas em 2010 ainda pretendo retrabalhar o shape e retornar à malhação + dieta + andar feito um cão condenado pra entrar em forma e me preparar pra ter um filho.
Pois é. Ter um filho. Tenho pensado bastante nisso e vejo que quanto mais a gente adia esse negócio, mais a decisão perde o sentido. Já tive mais dinheiro do que tenho hoje,já tive mãe, já tive a vida mais tranquila. E, no final das contas, sinto verdadeiramente que a única experiência que eu poderia ter tido até os 34 e não tive ainda foi a da maternidade. Sem pudores, exerço a reflexão budista que diz que devemos imaginar termos um passarinho pousado no nosso ombro direito todos os dias. E, todos os dias, esse passarinho me pergunta: "Você está pronta para morrer hoje?". Digo que sim. Pois tive a maravilhosa oportunidade de vivenciar tudo o que a vida me ofereceu.
Daí eu fico pensando e pensando...Dizem que ter um filho muda tudo. Não sei se pra melhor ou pra pior. Mas o fato é que cheguei à conclusão que ter um filho, de fato, é ter um novo recomeço. Quero ver essa outra vida, checar todas as possibilidades.
E também porque não tenho mãe desde os 23. Mas tenho pai. E ele está com quase 70. E ele é uma figura muito divertida. E eu realmente não queria privar meu filho dessa convivência maravilhosa, então não dá pra ficar adiando isso por muito tempo. Mei pai mora no sertão do Seridó (RN), numa casa construída em cima de uma serra a 80 m de altura. Ele tem um quintal com pomar e um cercado onde cria galinhas, pavão, seriemas. Tem também uma cadelinha fofa. Sabe o nome de todas as plantas e árvores, além do nome de todos os seus antepassados até o século XVIII, quando algum maluco perdido veio da região portuguesa de Antas (daí o sobrenome Dantas, que ele, inclusive, não carrega). Quero que meu filho o conheça.
Quero também ter a maravilhosa oportunidade de adotar uma criança, se a vida assim o permitir, pois quero exercer a faculdade de poder, de fato, mudar o mundo. E acredito na adoção como o maior dos milagres que um futuro cidadão possa receber. De minha parte, seria o maior milagre que eu poderia operar no mundo.
Mas é que eu sou assim, boba e besta. Ainda acredito nas pessoas e falo com cachorros na rua. Mesmo depois de um deles ter me mordido e eu ter sido obrigada a tomar cinco vacinas antirrábicas, além de três anti-tetânicas (tenho que me lembrar que a terceira dose ainda é em março). Ainda acredito no Carnaval por achar que é o período de tempo/ espaço onde o mundo finalmente faz sentido e todos nos confraernizamos nas ruas, sem nos preocuparmos com as coisas bobocas dessa vida como dinheiro.
Não que eu não goste de dinheiro e caso você conheça algém que desgoste dele, sorte a sua, mas o meu mundo ideal seria aquele em que todos pudéssemos ganhar o suficiente pra não nos preocuparmos com contas. Ou com o fato de ter (ou não) dinheiro o suficiente pra ter um filho, que é o meu caso. De toda forma, eu também acredito que tudo dá certo no final.
Eu recebi muitas ligações hoje. Sou muito amada. E tenho mais amigos que se possam contar nos dedos da mão. Bons e generosos, justos e honestos, leais como só os verdadeiros amigos podem ser. E fui acordada pelo ex-marido-atual-namorado. É uma conversa comprida. Mas o que na verdade fiz foi dar a mim mesma uma nova oportunidade de ser feliz. E sou feliz com ele, que vai me levar pra jantar no Mingus, meu restaurante preferido. Vamos tomar espumante e rir de tudo. Das coisas boas. E das ruins também, porque é preciso ter - além de caráter - muita presença de espírito nesses dias inglórios em que o mundo parece estar de ponta-cabeça.
E meu amigo Mino sonhou comigo esta noite. E eu era executiva-rica-proprietáriadeumprédio(!) no Bairro do Recife. E, no sonho, houve um abalo sísmico que fez com que a estrutura do prédio ficasse intacta, mas que ele desmoronasse por dentro. E eu preocupada porque havia uma criança lá dentro. E meu amigo Mino se tornava um gigante e conseguia salvar a criança que, depois, foi adotada por mim. Era uma menina. E tinha cabelos castanhos claros.
Eu é quem bebo. Ele é quem surta. Mas, no final das contas está tudo aí no sonho: a minha vontade de vencer, a minha despreocupação com a materialidade e o meu desejo maternal de fazer um mundo melhor e salvar uma criança.
Ê vida, heim?!?!?!
Tudo isso pra dizer que estou muito feliz. Bem e vida. A fé continua cega. A faca mais amolada do que nunca.