Bem-aventuranças na Estrada que Leva ao Mar
decidi tirar tr~es dias de folga com Catirina. Vamos pra Serrambeach na segunda e voltamos na quarta. Praia. Só mulheres na casa e boa música. Rói- rói tb tá valendo (por quê não?). Preciso de folga. De Chefitcho inclusive.
Bom, deixo aqui um textículo sobre a PE-60 e as cócegas no coração que me causam a estrada que me leva ao mar. O título do texto é o mesmo do Post.
Pernambuco. É janeiro e meu coração não cabe em mim. Chega o verão e, com ele, as cores das frutas da estação: mangas, cajus, alegrias em amarelo e tons de anil.
Adoro o Mar. Amo o Mar e tudo o que dele emana. O mesmo Mar que me amedronta, que respeito e em cujos braços jamais me sentiria segura. Chega a Sexta-feira de encontro com amigos e final de semana em praia.
Ah! A PE-60 com suas curvas e cana-de-açúcar! Durante anos acreditei que a cana não passava de um plantio cruel, que servia apenas aos senhores de engenho e àquela gente que toca sinetinhas de prata ao chamar os criados.
Durante anos acreditava ser a cana-de-açúcar tão meramente vil que, onde cresce, nada mais florescia ao redor. Fosse pela força de suas raízes, fosse pela agressividade de suas folhas. “Onde há cana, nenhum passarinho pousa”, me dizia um tio querido. E era verdade. E na Zona da Mata pernambucana, olhava-se para um lado, e para outro, e para direita e esquerda e lá estava ela: subindo e descendo morros, vales, planícies inteiras daquele grande tapete verde que balançava preguiçoso e lento ao soprar do vento.
Mas eu adorava o Mar. E para chegar a ele, precisava atravessar 50 quilômetros de cana à minha direita e esquerda; frente e costas, cercada por sussurros de um passado glorioso e ora decadente, de igrejas abandonadas e história perdida em revoluções, escravidão, paixões secretas, segredos imemoriais.
Nada poderia ser mais belo na estrada que me levava ao Mar do que a cana-de-açúcar em flor, com seus olhinhos que se balançavam ao firmamento, ostentando pequenas flores que, como a cana, dançavam harmoniosas e belas ao fim da tarde, na hora da Luz Mágica, quando o mundo adquire suas cores reais e indescritíveis.
E havia, também, aquela árvore no alto da serra, próxima à entrada de Ipojuca. Era alta. Bela. E ostentava, solitária em cima do morro, o testemunho único de todos aqueles que partiam de encontro ao Mar, às delícias do litoral sul de Pernambuco, com suas águas azuis e mornas, refúgio de cansaço da terra ardente.
Jamais esquecerei da estrada que leva ao Mar. E eu, com meus olhos adolescentes e servis, ansiosos por chegar, percorria a estrada que me levava a ele, às praias que foram testemunha de minhas paixões, fracassos, dores de amores, perdas de entes queridos, alegrias incompletas, frustrações matinais, êxtases sem fim.
O Mar sempre estará em mim. A estrada sempre estará em mim. Assim como uma parte das histórias de saques, igrejas abandonadas, águas mornas e silenciosas, todas as sensações que passaram por mim e o mundo que se encerrava diante de meus olhos.
E sempre haverá a estrada. A mesma que levou tantos viajantes, soldados, imperadores, comerciantes, trabalhadores da cana e pessoas comuns. Apenas uma estrada que leva ao Mar. Uma estrada que me levava à felicidade.
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