"Ele tinha a piada certa na ponta da língua..."
Hoje, a canção seria "Tire o seu sorriso da avenida, que eu quero passar com a minha dor"...
Ele se foi. meu amigo Edilson Rygaard partiu mais cedo. A arte pernambucana perde um grande talento. Ficamos aqui nós, sem tua espirituosidade,seu teu sorriso, sem tua chama.
O velório foi no palco do Teatro do Parque, sempre o palco. A despedida, palmas. Mais palmas. Palmas pra ele. O espetáculo da vida, entretanto, não poderá parar jamais.
Deixo aqui um dos textos publicados hoje sobre esta chuva que se abateu nos corações daqueles que o amam.
Edilson Rygaard
Reinaldo de Oliveira
O Recife perdeu a alegria. O Teatro perdeu um talento raro. Todos perdemos um ator dos mais espontâneos, na sua criatividade, na sua versatilidade.
Talvez os meus leitores não estejam ligando o nome à pessoa. Rygaard é o príncipe de “Cinderela”, que há décadas vem deliciando nosso público. É aquele mesmo participante de “A Casa de Bernarda y Alba”, e que, juntamente com o também saudoso Luiz de Lima, superlotava as casas do Teatro Valdemar de Oliveira. Era o Biu da Macaxeira ou o tipo inesquecível que interpretou na peça de Vanda Phaelante “O Papa Donzela”, levada pela Comunicarteatro. Todo o Recife reverencia a memória de Rygaard, não somente pelo que tinha em dotes artísticos, porém, também, como pessoa humana. O enterro foi antecipado das 16 horas de ontem, como foi anunciado pelas emissoras de rádio, para as 12 horas e não tive a oportunidade de levar, pessoalmente, a gratidão dos que fazem o Teatro de Amadores de Pernambuco pelas lições artísticas que nos deu. Ainda bem que Renato Phaelante, Vanda e a filha Renata ao lado de Rogério Costa e seus filhos Hector e Alderico, Marcos Portela, Everaldo Rodrigues, Clenira, Fabiana e Yluska, Wilson, Célia e Hulk representaram nosso grupo, além de outros amigos comuns, no velório do Teatro do Parque. Programei-me e me dirigi ao Parque das Flores, encomendei uma coroa em nome do Teatro de Amadores e fui para o suposto velório. A administradora do Cemitério me deu a notícia de que o enterro fora às 12 horas e a frustração se juntou à tristeza. Talvez tenha sido melhor a fim de que guardasse em minha memória o seu riso permanente e o seu modo de ser amigo e cordial.
É sobre esse aspecto que prefiro me debruçar nesta tarde triste e frustrada. Rygaard era uma pessoa que carregava, consigo, doses de bem-estar com a vida. Antecipava-se a qualquer encontro para um cumprimento respeitoso e delicado. O Teatro de Amadores de Pernambuco deveu muito a ele. Não chegou a integrar o seu elenco porém, era de uma prestimosidade a toda prova. Confeccionou chapéus, bolsas, roupas, objetos de cena, com a mestria dos que o fazem por intuição e por competência. Presenciei o auxílio que prestava na montagem da Paixão de Cristo de José Pimentel, além de ter sido o bom ladrão, ao lado de Cristo. Sempre desinteressadamente, visando a amizade como o lucro maior.
A última vez que o vimos foi no palco do Valdemar de Oliveira, para onde tinha ido, assistir, pela segunda vez, “Você pode ser um Assassino”, maravilhado com as nossas interpretações e exaltando a de Dulcinéa como “notável”. Na semana passada soube que seus pulmões tinham dado sinais de fraqueza porém não imaginei, como dizia Diná de Oliveira em Bernarda Alba, de Garcia Lorca: “Não pensei que a tempestade estalasse tão depressa”. Deixa-nos um vazio muito grande. Lamento pela perda do Teatro Pernambucano e pelo desfalque da Troupe do Barulho onde era elemento de destaque não só sob o ponto de vista artístico como intelectual. Meu abraço consternado em meu nome e no do TAP para Aurino Xavier, Jeison Wallace, Roberto Costa e toda a equipe que desfrutava de sua companhia. Sei que vai ser duro representar sem ele. Mas lembrem-se de que, na certa, o desejo dele de que continuem, manterá, em cada um, a força necessária.
Cheguei a escrever, na floricultura, os dizeres da coroa: Rygaard: o Teatro de Amadores de Pernambuco lhe deseja sucesso eterno. É esse desejo que existe em cada lágrima de todos nós.
* Membro da Academia Pernambucana de Letras e dos Conselhos de Cultura do Estado e do Município.
1 Comentários:
Essa saudade que sinto mesmo sem conhecê-lo...
Eterno principe que ficou gravado em minha memoria...
Guardo em meu peito a admiração que tenho pela sua alegria, felicidade que soubeste transmitir...
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