E-mail fofo de Emílio...
Emílio é leitor deste cafofo que dá o ar de sua graça mesmo morando pelas bandas de Bsb.
Recebo e-mail carinhosíssimo dele hoje com uma crônica do Prata (Mário Prata) que se chama "A Máquina da Canabrava". A crônica é uma delícia e refere-se à descoberta de dois adolescentes.
Segue trecho sensacional da crônica
"- Deixa que eu falo: é assim, é uma máquina, tipo um... teclado de computador, sabe só o teclado? Só o lugar que escreve?
- Sei.
- Então. Essa máquina tem assim, tipo... uma impressora, ligada nesse teclado, mas assim, ligada direto. Sem fio. Bem, a gente vai, digita, digita...
Ela ia se animando, os olhos brilhando.
- ... e a máquina imprime direto na folha de papel que a gente coloca ali mesmo! É muuuito legal! Direto, na mesma hora, eu juro!
Eu não sabia o que falar. Eu ju-ro que não sabia o que falar diante de uma explicação dessas, de menina de 12 anos, sobre uma máquina de escrever. Era isso mesmo?
- ... entendeu mãe?... zupt, a gente escreve e imprime, a gente até vê a impressão tipo na hora, e não precisa essa coisa chata de entrar no computador, ligar, esperar hóóóras, entrar no word, de escrever olhando na tela, mandar para a impressora, esse monte de máquina, de ter que ter até estabilizador, comprar cartucho caro, de nada, mãe! É muuuito legal, e nem precisa de colocar na tomada! Funciona sem energia e escreve direto na folha da impressora!
- Nossa, filha...
- ... só tem duas coisas: não dá para trocar a fonte nem aumentar a letra, mas não tem problema. Vem, que a gente vai te mostrar. Vem...
Eu parei e olhei, pasma, a máquina velha. Eles davam pulinhos de alegria.
- Mãe. Será que alguém da família vai querer? Hein? Ah, a gente vai ficar torcendo, torcendo para ninguém querer para a gente poder levar lá para casa, isso é o máximo! O máximo!"
Lembrei-me da senhora minha mãe. Ela, parecendo adivinhar o futuro, comprou uma Remington em 1978 para mim e pro meu irmão. Acho que minha mãe era uma coisa assim: meio louca, meio visionária. Em 1978 eu só tinha 2 aninhos e o meu irmão, 4. Era uma máquina de datilografar semi portátil, pesada, de chumbo e pintada de verde musgo meio exército. Lembro-me que uma de minhas brincadeiras preferidas de infância era brincar de escrever àquela máquina. Nela fiz todos os meus trabalhos do colégio militar e do segundo grau também. Ela testemunhou poemas de pé-quebrado, crônicas azedas, cartas abandonadas....
Abandonei a coitada quando ingressei na faculdade de jornalismo quando, finalmente, comprei uma máquina elétrica (que eu já sabia manusear quando passei um tempo como secretária aos 14/ 15 anos).
Minha Remington (a essa altura já era minha, pois meu irmão jamais se afeiçoou a ela - ao contrário de mim, que sempre a-d-o-r-e-i derramas palavras vãs por sobre folha de papel qualquer) foi generosamente doada a uma vizinha...
Emílio, prezado, você realmente não faz idéia das cócegas que você promoveu no meu coração com essa crônica. A crônica da descoberta de crianças por um objeto que me foi tão querido e que me acompanhou por longos 15 anos...eu entendo o que eles sentiram.
Saudades da minha Remington. Saudades da minha mãe. E viva a literatura e todos os seus conceitos associados.
A vida é assim, engraçada. Vive dando pequenos sinais à nossa volta. Emílio me mandou um texto que - imagino - não saberia o que me causaria.
Valeu amigo. Eu estava precisando sentir essa "presença", esses pequenos sinais ...
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