Pra Me Enlouquecer É Mais Caro

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quarta-feira, abril 07, 2010

"Medo do medo que dá"

Um dia após a tragédia que já contabiliza 119 mortos, o Rio de Janeiro acordou com medo. Apesar do céu de (quase) brigadeiro que abriu hoje sobre a cidade, a todo instante olhamos para cima para checar se não está vindo uma tromba d'agua. Após quase 48 horas de chuvas, nos acostumamos a ouvir o barulho da água e as notícias trágicas e a ver o céu nublado e as cenas de alagamento pela tv.

- Dispensei minha secretária mais cedo. Ela mora em Santa Teresa (bairro onde um desmoronamento de terra provocou a morte de várias pessoas) e fiquei com medo da chuva que pode vir no final da tarde. Na segunda-feira, ela só conseguiu chegar em casa às 2h da madrugada, desabafava no elevador uma senhora ao sair do consultório médico.

- Tá sol assim, mas mais tarde deve chover, alertava (nada otimista) meu vizinho, ao cruzar comigo no corredor do prédio quando eu voltava de uma caminhada no calçadão.

- A senhora confirma a consulta ao médico hoje à tarde? Estamos ligando para todas as pacientes, me perguntou a secretária do ginecologista.

A chuva que começou no início da noite de segunda-feira nem de longe anunciava o tamanho da sua tragédia. A terça-feira foi um dia de contagem progressiva. Acordamos com 25 mortos e fechamos o dia com 95 vítimas fatais.

Depois de 36 horas de muita água, hoje sai de casa. A rua era uma lama só. Trabalhadores do serviço de limpeza tiravam com enxada, em um trabalho quase artesanal, os quilos de sujeira que se acumulavam por todo lado. Na rua, todos guardavam uma cumplicidade entre si, de termos compartilhado a mesma agonia/ansiedade/expectativa das últimas horas. Parecia que a chuva não ia acabar nunca.

Na orla de Ipanema e Leblon, dos 22 quiosques da praia, apenas 11 abriram hoje as portas até as 10h30. O mar continuava revolto, com ondas fortes. E o Jardim de Alah, canal por onde escoa a água da Lagoa Rodrigo de Freitas (cujo nível subiu de 0,5 metros para 1,4m) virou alvo de atenção dos moradores. Todos olhavam para ver o volume de água indo para o mar e o nível de água acumulada.

Agora é rezar aos céus: chuva, só garoa.