Para tudo, parei... ou melhor, agora ando, não corro mais
Retrospectiva para uma nova vida
Foi em 1994, aos 17 anos. A menina do interior que tinha vindo estudar na capital só queria saber de uma coisa: trabalhar, trabalhar. Ter um dinheiro para dizer que é seu. Estudante de jornalismo, começou a trabalhar como estagiária de Serviço Social na empresa municipal que administrava os mercados públicos. Passava a manhã entrevistando donos de "box", como chamam as lojinhas dos mercados em Recife, para preencher um formulário de duas páginas. Nunca "fechamos" o formulário de um mercado inteiro por não encontrarmos todos abertos no horário da entrevista. Mas eu conheci a periferia de Recife.
O estágio era na Avenida Caxangá. De lá, seguia no meu querido CDU/BoaViagem, vulgo "Volta ao Mundo" com conexão pela Avenida Recife, para a UFPE. Na mochila, uma marmita com salada de batata e sardinha. O self do CAC (Centro de Artes e Comunicação) custava os olhos da cara. Não dava para bancar arroz com feijão para a jovem estudante. Assim foi durante um ano.
Em 1995, mudei de roteiro. Começava o dia com o Rio Doce/CDU. Da praça do Carmo, ia para o novo estágio, uma ONG que tratava sobre educação, direitos humanos e comunicação. Chefinho danado eu tinha !!!! Lá escolhi o nome para "assinar" matérias. Jornalista é assim, tem que reduzir o nome para virar profissional. Deve ser porque nao cabe tudo nas páginas. Aprendi lead, sublead e 70 toques na lauda e o danado do Word. Hoje tudo isso parece piada ou não passa de saudosismo. De Olinda, a viagem para a UFPE seguia pelo mesmo Rio Doce/CDU e, claro, terminava no inesquecível CDU/Boa Viagem. Troquei a marmita pelo cachorro-quente com refresco, tudo por R$ 1,00, na barraca-bicicleta em frente ao CAC.
Em 1996 ou 1995, fui para o jornal. Imagine eu, militante estudantil, agora escrevia sobre cultura: filmes, música, teatro e tv. Parecia provocação do destino com quem fez jornalismo achando que iria escrever sobre política e mudar o mundo. Digo hoje: foi o melhor caminho que trilhei para entrar na profissão. Na editoria de cultura, você aprende cedo a ter opinião e, principalmente e o mais difícil, a expressar a opinião. Hoje, sobre política é tudo que não quero escrever. Nessa época, o buzu ficou mais raro. Nao vou dizer tinha um carro, mas dividia um Chevette (álcool) com minha irmã, e já almoçava nos self do Centro. Me aventurava até a tomar doses de uísque em vez do vinho do garrafão de cinco litros.
Formada, em 1998, troquei o onibus pela ponte aérea e me mudei de mala e cuia para Brasilia. A capital federal, um imenso campus da UFPE que alterna áreas verdes com prédios, me trouxe a um novo universo: o do mundo cão, seja na cobertura de Cidades, seja na do poder. Tive o prazer de conhecer a periferia de Brasilia antes dos salões verde (Cämara dos Deputados) e azul (Senado) do poder e ver o quanto a primeira é bem mais limpa e sincera que a segunda. Um Gol Special 1.0 me acompanhava na jornada.
Em 2007, arrumei as malas e desembarquei no Rio de Janeiro, onde estou agora. Foram quase três anos em um grande/imensa empresa. Fazia tudo: lavava, passava, pregava botão e limpava a pia. Era jornalista, publicitária, assistente, relações públicas e secretária, nos intervalos. Uma grande experiência. Aqui, voltei ao querido mundo dos "coletivos". Em vez de nomes, me apeguei aos números, em especial ao 175 (os motoristas da linha devem fazer curso intensivo de direção perigosa. É um rally diário pelo Aterro do Flamengo). Na falta, traia o 175 com o 127, 128, 125. O 2011 e o 2016, nao.
Março de 2010: parei de trabalhar. Dezessete aos depois de entrar com minha prancheta pela primeira vez no Mercado da Madalena e começar no serviço, eu chutei o balde. Mandei a inércia de acordar-trabalhar-dormir para as cucuias.
Estou a procura de uma nova inércia. Ou de inércia alguma.
- Oi, mundo novo, muito prazer.....
2 Comentários:
Orgulho. É o que sinto agora. Apesar de em 99% do tempo ser o contrário, me sinto uma irmã mais velha nesse momento. Te amo. Pelos pequenos fragmentos de você, que fazem de você, você. Pela sua audácia, coragem, genialidade, sensibilidade, inteireza. Sabe, uma vez me disseram que o significado da palavra carisma é "um ser tocado por Deus". Não sei se é verdade, mas se for, o carisma se inspirou em você para ser. Seja, irmã!
xêros de admiração, carinho, ternura e cheio de graça...
Arrasou, amiga. Vai dar tudo certo. Confia em mim
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