Pra Me Enlouquecer É Mais Caro

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quarta-feira, novembro 11, 2009

Senhores passageiros, bem-vindos ao "inferno" na terra

Quarta-feira, 11 de novembro, 00h25 - finger 3 do aeroporto do Galeão (Rio de Janeiro)

"Senhores passageiros, a Gol recomenda que permanecem todos no aeroporto. Devido ao blecaute em vários estados do país, a cidade do Rio de Janeiro está sem luz e estão ocorrendo vários "arrastões" na Linha Vermelha (única saída do aeroporto)". Assim, sem meias palavras, anunciou um funcionário da Gol aos passageiros do voo 1857 (Manaus-Brasilia-Rio de Janeiro). Depois de três horas de espera na capital federal até embarcar para o RJ, ouvi essas inacreditáveis palavras.

No saguão do aeroporto, o cenário era desolador: gente dormindo no chão, esparramada nas cadeiras ou disputando água (morna) no único quiosque aberto. Ninguém sabia direito o que estava acontecendo. Literalmente, desembarcamos no "inferno".

Atordoada, sai caminhando pelo aeroporto para escutar o "burburinho" da confusão. "A aeromoça da Gol foi assaltada no caminho do aeroporto. Isso faz 20 minutos", dizia uma moça ao lado do cinzeiro. "Vim desviando dos carros. Três caras tentaram me 'fechar' na Linha Vermelha para um assalto", contava um carioca "esperto". "Isso é coisa do Chávez. Ele botou uma bomba em Itaipu", brincava um grupo de rapazes à espera de um amigo que vinha do exterior.

Ao segurança particular do aeroporto, pergunto:
- Moço, será que dá para pegar a Linha Vermelha?
- Olha, o governador acionou o Bope (tropa de elite da PM). É melhor esperar eles (os policiais do Bope) darem um jeito nos bandidos. Acho melhor a senhora não sair agora, não.

Já sem perspectivas nem ideia do que poderia fazer, encostei ao lado de um carro para escutar as notícias do rádio e fumar mais um cigarro. "Um ouvinte conta que a luz já voltou em Berfold Roxo, mas ainda continua tudo escuro na Zona Sul", narrava o locutor. Caramba, que horas vou sair daqui, pensava comigo.

Avistei logo ao lado um PM. Mais uma vez, tento:

- Moço, será que dá para pegar a Linha Vermelha?
- Se algum taxista aceitar levar a senhora, tudo bem. Mas não garanto nada, respondeu o PM. Repito, o PM.

Insisto:
- Mas estou perguntando se não tem risco de arrastão, assalto, rou-bo, na Linha Vermelha?
- Não posso garantir nada, senhora.

Adotei a estratégia de selva: tinha que me preparar para a madrugada. Desliguei um dos celulares para poupar energia. Com o outro, economizava nos diálogos.

Uma hora depois de desembarcar, a terceira tentativa com um segundo PM que, animadamente, conversava com um taxista.

- Moço, será que dá para pegar a Linha Vermelha?
- Bom, aproveita que esse taxista é de confiança.

Ufa!!!!

O taxista, no entanto, logo emenda:
- Para onde a senhora vai? E que o GNV tá pouco e não sei se dá para chegar lá, afirmou o motorista.

Explico: sem energia elétrica, os postos de combustiveis nao podem abastecer com GNV. Mas a resposta do motorista era a piada que faltava na noite de "inferno'. Trabalho para uma empresa que produz e vende gás. O produto está em sobra no mercado. Mas, naquela confusão, corria o risco de ficar na rua justamente por falta de gás. Perguntei novamente:

- Moço, qual o tamanho do risco de ficarmos na rua: não dá para chegar na sua casa ou na minha?
- Não, senhora. Na Zona Sul, dá para chegar. Não sei é se consigo voltar para Santa Cruz, onde moro. Ah, a corrida é preço fechado: R$ 50,00
- Só tenho R$ 47,00
- Vamo assim mesmo. Embarque aí!

Cheguei em casa as 2h da madruga. Cansada, com fome e pela primeira vez, em mais de 2 anos morando no Rio de Janeiro, com medo.