Mas era sempre aquela sexta-feira oca no meu peito...
Meu amigo E.R. está se despedindo da vida. Devagarzinho, sem dar adeus. Não sei descrever melhor o que estou sentindo do que descreveria Joaquim Cardozo, neste poema.

Canção Elegíaca
Quando os teus olhos fecharem
Para o esplendor deste mundo,
Num chão de cinza e fadigas
Hei de ficar de joelhos;
Quando os teus olhos fecharem
Hão de murchar as espigas,
Hão de cegar os espelhos.

Quando os teus olhos repousarem
No peito frio e deserto,
Hão de morrer as cantigas;
irá ficar desde e sempre
Entre ilusões inimigas,
Meu coração descoberto.

Ondas do mar - traiçoeiras -
A mim virão, de tão mansas,
Lamber os dedos da mão;
Serenas e comovidas
As águas regressarão
Ao seio das cordilheiras;
Quando os teus olhos fecharem
Hão de sofrer ternamente
Todas as coisas vencidas,
Profundas e prisioneiras;
Hão de cansar as distâncias,
Hão de fugir as bandeiras.

Sopro da vida sem margens,
Fase de impulsos extremos,
teu hálito irá indo,
Longe e além reproduzindo,
Como um vento que passasse
Em paisagens dos pintores
Comovendo os girassóis
Perturbando os crisantemos.

O teu ventre será terra
Êrma, dormente e tranqüila
De savana e de paul;
Tua nudez será fonte,
Cingida de aurora verde,
A cantar saudade pura
De abril, de sonho, de azul
Fechados no anoitecer

Adeus, amigo. Se for este o destino ao qual estamos nós sujeitos, ficaremos pois sem tua energia contagiante, sem tua esperança vã, sem tua força insubstituível, sem tua magia colorida. Vai com Deus e olhe por nós. Peça orientações do caminho à minha mãe e divirta nossos queridos que chegaram á festa antes de nós...
Saudades eternamente...