Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Meu amigo Will e a mãe de Bebé faleceram na última quinta-feira. Tomei o primeiro avião que pude pra Bsb e sequer consegui passar pelo velório de Will. Passei apenas 24 horas em Bsb, 16 das quais dentro do cemitério, onde virei a noite de quinta pra sexta. Fazia uma frio desumano e minha pequena mala havia sido extraviada. Nunca estar em bsb foi-me tão difícil ou desagradavelmente triste.
Fui sim. nessa vida a gente tem que dar um abraço nas pessoas que a gente ama. Bebé estava aqui em Recife quando a minha mãe morreu, não achei justo simplesmente não ir.
Quanto a Will, confesso que meu estupefamento não me deixou outra opção a não ser pensar nele com muito carinho. O mesmo carinho que ele dedicava a tudo que fazia e a todas as pessoas que o cercavam.
Enfim, não quero falar muito sobre o que não há a ser dito. deixo aqui as minhas impressões do velório de D. Tereza, mãe de Bebé;
...adentrei a câmara ardente no momento em que se acendiam os círios. Pouco a pouco foram chegando filhos, sobrinhos, netos, amigos e agregados. A pintura do quadro era clara e simples: um caixão suspenso sobre suportes prateados adornados, quatro castiçais circundavam o ataúde, atrás do qual - religiosa e precisamente - encontrava-se um crucifixo cristão.
Coberta por fino e delicado véu, jazia o corpo inerte de Tereza. Recoberta por rosas amarelas e laranjasm descansava ambas as mãos sobre o peito. Acertaram na vestimenta - sóbria e elegante, um quê de colorida para a ocasião. Erraram, entretanto, nos lábios.
Tereza gostava de cores telúricas: cobnre, bege, café, até mesmo "cor-de-boca". Mas optaram por imputar a seus lábios - já sem vida - um pálido e cintilante rosa claro. Quase claro demais para sua tez, jáe nrijecida pelo rigor mortis.
Atrás de si e suspensas na parede da câmara, pendiam quatro coroas de flores. Uma delas, entretanto, havia chamado a atenção dos mais observadores:
"Saudades eternas. Do seu companheiro, Lucas"
Nada seria mais óbvio. Ou menos justo. Não fosse Lucas o ex-marido. O ex-marido que havia posto fim ao 'bem-sucedido-e-estabilizado-relacionamento-de-trinta-anos-para-se-unir-a-uma jovem-de-apenas-20-anos'.
Murmúrios e cochicos povoavam o ambiente. Olhares de soslaio se esgueiravam para averiguar o conteúdo da mensagem - até então - inesperada. Ela, que jamais havia deixado de amá-lo, teria dado um bom par de meses de sua vida por aquele gesto sincero de carinho, sem quaisquer intermediários.
Tereza jaz no caixão e, daquela posição, não conseguiria contemplar dali a tal mensagem.
Mas foi este testemunho sincero, espontâneo e verdadeiro do homem com quem conviveu por três décadas que sensibilizou a todos - positiva ou negativamente.
Ela o amava. Com todas as células do seu corpo e toda a essência de sua alma. E ele, num gesto corajoso e leal, agradecia naquele momento, os anos de convívio.
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