09/93
...olhamo-nos através do vidro do ônibus. E mesmo através do vidro e de meus óculos escuros, enxergávamos nossos olhos de ressaca e paixão. Através do vidro e dos óculos escuros, sorrimos um sorriso de amantes. Indubitavelmente nada menos do que amantes se olhando através de um vidro de ônibus e um par de óculos escuros às 6:30h de um dia úmido e quente de fim de inverno.
Creio (e temo) que jamais esquecerei aquele olhar, mesmo que aquele dia venha a ser apenas mais um dia perdido em minha noção de tempo, ou espaço. Quis lhe perguntar se ele ainda lembrava do meu cheiro...que não chegou a se instalar em sua cama, mas que ainda era capaz de perturbá-lo ao nos aproximarmos.
A dor do êxtase de ser mulher jamais se refletiria com tal intensidade em outro sorriso; e em outro olhar por uma janela de ônibus e um par de óculos escuros como se deu naquele dia de paixão. Talvez eu já temesse amá-lo, ou talvez eu me amasse nele...Não!!! Sem dúvida alguma, eu o amava em mim, mas já não podia dizê-lo. Quando chegasse a hora (se é que chegaria), mandá-lo-ia embora (caso um dia ele chegasse a voltar). A dor do êxtase de ser mulher já não valeria a dor do amor. A dor de amá-lo (descobrira que ele seria, eternamente, parte, e não todo. E se não há um todo, como poder ser parte?)
(...)
Naquela noite eu não havia me bastado.Como quis me ter bastado! Uma noite na qual não soube se já cansava de esperar....ou de ter esperanças; até o momento sôfrego de um toque na campainha suficiente para que a adrenalina acarretasse aquela taquicardia associada ao prazer indelével de tê-lo em mim.
(...)
O ônibus partia e ainda nos fixávamos nos olhos de paixão e ressaca daquela noite em que eu não havia me bastado. O ônibus partia no momento em que ele se despedia de mim com um beijo que não me permitia saber se ele voltaria...ou não. Caso ele voltasse e eu me desprendesse do medo que me impedia de amá-lo, seria chegada a hora de mandá-lo embora, de deixá-lo partir.
Porque a dor do êxtase de ser mulher já não valeria a dor do amor...a dor de amá-lo.
Escrita quando eu tinha apenas 17 aninhos...
Pois é. Eu costumo dizer que "quando eu crescer eu quero escrever igual ao Antônio Maria.
Mas, sinceramente, adoraria voltar a escrever com a fúria e precisão dos meus 17 aninhos...
PS.: Não, eu jamais me esqueci daquele olhar. E, sim, aquele dia é um dia perdido em minha noção de tempo ou espaço.
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